terça-feira, 22 de novembro de 2011

Dias de Paraíso - 1978


O interesse do diretor Terence Malick no cinema como uma experiência imagética, quase sensorial, provavelmente atingiu o seu ápice com esse fime, o segundo de sua curta filmografia, famosa pelos longos hiatos entre uma obra e outra.

Ao se comentar sobre esse filme, a primeira coisa que logo vem a cabeça é a fotografia magnífica do cubano Néstor Almendros, talvez uma das mais belas da história do cinema. Ele e Malick optaram por realizar as filmagens somente nas chamadas "horas mágicas" do dia, quando a luz apresenta uma nebulosidade única.

A estória apresenta um triângulo amoroso, mas que se diferencia de outras representações por ser narrado através dos olhos de uma criança, o que proporciona um olhar neutro sobre os fatos, um misto de curiosidade e inocência.

No fim, a trama ganha contornos bíblicos, com uma série de pragas que remetem ao Velho Testamento, culminando em um desfecho trágico.

Um belo filme sobre os caprichos da natureza humana e, talvez olhando de forma mais profunda, sobre o nosso lugar no mundo.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Paranoid Park - 2007


Poucos cineastas conseguem filmar a juventude com a sensibilidade e o talento de Gus Van Sant.
O diretor já havia mostrado a sua habilidade ao lidar com o tema em filmes anteriores, como Mala Noche, Garotos de Programa e Elefante.

A narrativa de Paranoid Park é não-linear, como se estivéssemos acompanhando as memórias de Alex (Gabe Nevins), o personagem principal, indo e voltando aos acontecimentos conforme ele se lembra deles.

Assim como em Elefante, o elenco é composto praticamente todo de atores não profissionais, o que permite ao espectador criar uma identificação mais próxima com os personagens.

A fotografia de Christopher Doyle, usando até algumas filmagens em Super 8, é perfeita, e a trilha sonora eclética, que vai do clássico ao contry, excelente.

Van Sant parece tentar compreender a juventude através do silêncio, tentar compreender toda aquela dor invisível de uma geração.

Em suma, um filme simplesmente fantástico sobre a adolescência e sua alienação, seus medos, o tédio e aquele vazio que procuramos de alguma forma preencher para nos sentirmos livres, completos e porque não, vivos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia - 1974


Uma viagem alucinógena por um México sujo, decadente e ameaçador, povoado por personagens de moral altamente duvidosa que só poderiam ter saído da cabeça do diretor Sam Peckinpah.
Assim é Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia, esse road movie regado a litros de álcool e sangue.

Na estória, um latifundiário mexicano descobre que Alfredo Garcia engravidou sua filha e, indignado, oferece um milhão para quem lhe trouxer a cabeça (literalmente) do rapaz.
Um pianista de bar fracassado (Warren Oates) e sua namorada prostituta (Isela Vega) descobrem que Garcia já está morto e pretendem corta-lhe a cabeça para ganhar a recompensa. O problema é que toda sorte de criminosos e caçadores de recompensa saem atrás da dupla, e aí você já pode imaginar que coisa boa não vem por aí.

Peckinpah filmou no México, longe dos grandes estúdios americanos, o que lhe permitiu total liberdade criativa e controle sobra a produção.

O filme recebeu fortes críticas na época de seu lançamento, muitas ressaltando o excesso de violência e sordidez que ele apresentava. Atualmente é visto pela maioria como uma das obras primas do diretor.

O final, amargo e cravejado de tiros, não poderia ser mais característico de Peckinpah.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Anticristo - 2009


Anticristo é provavelmente o filme mais polêmico do diretor Lars von Trier, o que não é pouca coisa vide uma carreira marcada por filmes considerados "polêmicos" pela crítica, como Os Idiotas e Dogville.

Dividido em um prólogo (muito bonito, todo em p&b e em câmera lenta), quatro capítulos e um epílogo, o longa é repleto de cenas de violência e sexo explícitas.

A história gira em torno de um casal (Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, numa grande atuação) que se isola em uma cabana num lugar chamado Éden, na esperança de superar um forte trauma emocional causado pela morte do filho do casal.

Repleto de simbolismos, o filme parece ser um grande manifesto anti-religioso, uma crítica feroz a Igreja e seus dogmas. Contudo, estamos falando de Lars von Trier, e tudo pode não ser o que parece.

A constante câmera tremida (uma constante nos trabalhos do diretor) incomoda, mas nada que prejudique o impacto causado por esse filme, o que tendo em vista o cinema atual, ao menos já é alguma coisa.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Inquilino - 1976


Filmaço esse O Inquilino, que fecha a chamada "Trilogia do Apartamento" de Roman Polanski, precedido por Repulsa Ao Sexo de 1965 e O Bebê de Rosemary de 1968.

Assim como nos filmes anteriores da trilogia, a ação se passa quase que inteiramente no interior de um apartamento, onde o protagonista é lentamente sugado para uma espiral de delírio e loucura.

Na trama, o polonês Trelkovsky (o próprio Polanski em uma interpretação sinistra) muda-se para um velho edifício em Paris. Ele descobre que a inquilina anterior havia suicidado em circunstâncias misteriosas e aos poucos começa a acreditar que seus estranhos vizinhos estão envolvidos em uma trama para levá-lo também a se matar.

fotografia de Sven Nykvist, parceiro frequente de Ingmar Bergman, em tons escuros e acinzentados, ajuda a compor o clima claustrofóbico e angustiante.

O final é simplesmente "what the fuck" e vai martelar na cabeça por bastante tempo.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Espírito da Colméia - 1973


Belo, poético, sensível, misterioso.
Todos esses adjetivos servem para caracterizar O Espírito da Colméia, filme de estréia do diretor espanhol Víctor Erice.

Repleto de metáforas e alegorias, o filme apresenta um contexto político (a história se passa em uma vila rural espanhola em 1940, quando o regime franquista já estava instaurado), mas ao mesmo tempo funciona como uma fábula e um drama sobre a perda da inocência.

A atuação de Ana Torrent, com apenas 6 anos de idade (no papel da pequena Ana) é fantástica. Seus grandes e expressivos olhos negros são difíceis de se esquecer.

Destaque também para a maravilhosa fotografia de Luis Cuadrado toda em tons amarelados emulando a cor do mel, e para a trilha sonora minimalista de Luis de Pablo.
Obra prima.
Primeiro post do blog só para dar um boas-vindas a todos que acabarem caindo por aqui.
Fiquem à vontade para comentarem o quanto quiserem.
Abração!